A Distribuição das Solenidades Sagradas nas Escrituras
Ao meditarmos os escritos do Pentateuco, encontraremos diversas mensagens acerca das solenidades sagradas, bem como os detalhes que norteiam as instruções do Senhor sobre os atos solenes:
Páscoa e Ázimos – O ponto de partida para as demais solenidades;
As Três Santas Convocações do Ano – Os três encontros são pilares que envolvem todas as sete solenidades bíblicas
Dia da Expiação – Dedicado, exclusivamente, à trajetória do sumo sacerdote na tenda da congregação, no sexto encontro solene, envolvendo práticas no átrio, Lugar Santo e Lugar Santíssimo
Todos os encontros solenes – Detalhes sobre o sábado e as sete solenidades anuais:
Páscoa – mês 1, dia 14
Ázimos – mês 1, dia 15
Primícias – dia seguinte ao sábado, posterior à Páscoa
Pentecostes – 50º dia após Primícias
Trombetas – mês 7, dia 1
Expiação – mês 7, dia 10
Tabernáculos – mês 7, dia 15
Todos os sacrifícios contínuos – envolve os sacrifícios diários (tardes e manhãs), bem como o sábado, os sacrifícios de lua nova (início de cada mês) e todos os detalhes acerca dos encontros sagrados.
As Três Convocações Sagradas e a peregrinação dos santos
De acordo com o livro de Êxodo, Deus instituiu Três Festivais de Peregrinação, ou seja, Três Convocações Sagradas, tendo como referência: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos.
O povo deveria peregrinar até a Tenda da Congregação, conforme regido pelas Escrituras:
Comemorem a Festa dos Pães sem Fermento. Como lhes ordenei, comam pão sem fermento durante sete dias no mês de abibe, que é o tempo certo, pois foi nesse mês que vocês saíram do Egito. Todo primeiro filho é meu e também o primeiro filhote macho dos animais domésticos. Mas, se vocês quiserem ficar com o primeiro filhote macho de uma jumenta, ofereçam-me um carneiro; se não quiserem, quebrem o pescoço do jumentinho. Para ficarem com todo primeiro filho de vocês, paguem o preço determinado. Ninguém deverá aparecer diante de mim sem trazer uma oferta. Vocês têm seis dias para trabalhar, porém não trabalhem no sétimo dia, nem mesmo no tempo de arar ou de fazer a colheita. Comemorem a Festa da Colheita quando começarem a fazer a primeira colheita do trigo. E comemorem a Festa das Barracas no outono, quando vocês colherem as suas frutas. Três vezes por ano todos os homens israelitas deverão ir adorar a mim, o SENHOR, o Deus do povo de Israel. (Êxodo 34:18-23).
O primeiro encontro, também chamado de Festa dos Pães Ázimos, envolve as três primeiras solenidades bíblicas (Páscoa, Ázimos e Primícias), demarcando as primeiras colheitas do ano.
No quinquagésimo dia após Primícias ocorre o segundo encontro: este dia é conhecido como Pentecostes ou Festa das Semanas.
O terceiro encontro é marcado pelas últimas colheitas do ano, conhecido como Festa dos Tabernáculos ou Festa das Colheitas, envolvendo as três últimas solenidades (Trombetas, Expiação e Tabernáculos), no qual o Senhor reforçou, nas últimas instruções da Torá:
Três vezes no ano todo o homem entre ti aparecerá perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher, na festa dos pães ázimos, e na festa das semanas, e na festa dos tabernáculos; porém não aparecerá vazio perante o SENHOR. (Deuteronômio 16:16).
Cabe frisar que o calendário bíblico é diferente do calendário gregoriano, comumente utilizado pelos países ocidentais, conforme ilustrado no quadro a seguir:
A importância de discernir as solenidades sagradas
Realizando uma análise acerca da Festa de Tabernáculos (a sétima solenidade anual) e o Ano do Jubileu (celebrado a cada ciclo de sete anos sabáticos), encontramos sombra que aponta para a realidade do Reino de Deus.
O período de celebração de Tabernáculos é de sete dias, sendo que o oitavo dia é destinado a um encontro especial (Levítico 23:39).
O Jubileu é a representação do oitavo ano, celebrado após sete anos sabáticos (Levítico 25:8-12). Ambas celebrações estão relacionadas com a transição do ano milenar de Cristo (no sétimo milênio) para o período de descanso perpétuo (a partir do oitavo milênio), na Eternidade com o Senhor.
A relação entre o “oitavo dia” e a “eternidade” já era compreendida entre os apóstolos, conforme enfatizou Pedro: “antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2 Pedro 3:18).
Deste modo, consideramos a necessidade de observar o Jubileu e, para isso, precisamos observar, também, os anos sabáticos, que levam à transição para o Ano Aceitável de descanso.
O descumprimento das solenidades pelos israelitas no passado
Em Levítico 25:2, a contagem dos anos sabáticos (Shabat Shemitah) e do Jubileu (Yovel) deveria ser iniciada a partir da entrada do povo de Deus na terra prometida.
Durante todo o tempo de cativeiro babilônico, o povo não cumpriu as festividades, bem como a contagem do período sabático.
Muitos estudiosos realizaram tentativas para reconstruir o momento exato de quando os anos sabáticos realmente ocorreram, usando fragmentos dos textos bíblicos e eventos datados em calendários fixos adotados pelos judeus. Estes estudos propiciaram melhor localização dos períodos do primeiro e do segundo templo.
Flávio Josefo, também conhecido pelo seu nome hebraico Yosef bem Mattityahu, foi um importante historiador judaico-romano que viveu no primeiro século.
Em sua importante obra “A História dos Hebreus” ele apresenta informações sobre o ano sabático, durante o período no qual Judas Macabeu, líder da revolta dos Macabeus contra o Império Selêucida (167-160 a.C.), enquanto a fortaleza de Jerusalém foi cercada:
Judas, vendo que eles eram muito superiores em número, retirou-se para Jerusalém, a fim de continuar o cerco da fortaleza. Antioco, depois de enviar parte de suas tropas contra Bete-Zur, marchou para Jerusalém com o resto do exército. Quando os habitantes de Bete-Zur, que tinham falta de víveres, se viram tão fortemente atacados, entregaram-se, depois de os inimigos prometerem com juramento não lhes fazer mal algum. Mas Antioco faltou-lhes à palavra, pois lhes conservou somente a vida, expulsando-os nus da cidade, onde estabeleceu uma guarnição. Sitiou em seguida o Templo, em Jerusalém, e o cerco durou muito tempo, porque os judeus se defendiam valentemente, derrubando as máquinas com outras máquinas. Os víveres, porém, começavam a faltar, porque era o sétimo ano, no qual a nossa lei proíbe semear e cultivar a terra. Assim, muitos foram obrigados a se retirar, e só uns poucos ficaram para continuar a resistir ao cerco. (Josefo, Séc. I).
Josefo também faz outra referência ao ano sabático ao mencionar a história de Caio César, Herodes Arquelau e Hircano, nos tempos de nascimento de Jesus:
Ordenamos que os habitantes de Jerusalém paguem todos os anos um tributo, do qual a cidade de Jope estará isenta, mas que no sétimo ano, a que eles chamam ano do sábado, nada pagarão, porque nesses anos eles não semeiam nem cultivam a terra, nem recolhem os frutos das árvores; que pagarão de dois em dois anos, em Sidom, o tributo que consiste em um quarto das sementes e os dízimos a Hircano e seus filhos, como pagaram os seus predecessores. (Josefo, Séc.I).
Maimônides (1180), também conhecido como Moisés ibne Maimom, foi uma grande autoridade no período pós judaísmo medieval, possuindo um papel essencial como expoente intelectual a respeito das ordenanças judaicas. No que tange à contagem dos anos sabáticos, ele apresentou informações relevantes:
Quando começou a contagem? Quatorze anos após a entrada em Eretz Yisrael. [Isto é derivado de Levítico 25:3]: “Seis anos semearás o teu campo e seis anos apararás a tua vinha.” Está implícito que cada pessoa deve reconhecer sua porção da terra. O povo levou sete anos para conquistar a terra e sete anos para dividi-la. Assim, a contagem começou após o 2503º ano após a criação, de Rosh Hashaná, após a conjunção [do sol e da lua antes da criação] de Adão, que estava no segundo ano da criação. Eles declararam o 2510º ano após a criação, que foi o 21º ano após a entrada em Eretz Yisrael como o ano sabático. Eles contaram sete anos sabáticos e então santificaram o quinquagésimo ano, que foi o 64º ano após eles entrarem em Eretz Yisrael. (Mishneh Torá, Capítulo 10).
A fim de complementar, Maimônides afirmou que:
O povo judeu contou 17 anos de Jubileu desde o momento em que entraram em Eretz Yisrael, até a sua partida. O ano em que partiram, quando o Templo foi destruído pela primeira vez, foi o ano seguinte ao ano sabático e o 36º ano do ciclo do Jubileu. Pois o Primeiro Templo durou 410 anos. Quando foi destruído, esse cálculo cessou. Depois que cessou, a terra permaneceu desolada por setenta anos. Então o Segundo Templo foi construído e durou 420 anos. No sétimo ano após sua construção, Esdras ascendeu a Eretz Yisrael. Isso é conhecido como a segunda entrada. A partir desse ano, eles iniciaram outra avaliação. Eles designaram o décimo terceiro ano do Segundo Templo como o ano sabático e contaram sete anos sabáticos e santificaram o quinquagésimo ano. Embora o ano do Jubileu não tenha sido observado [na era do] Segundo Templo, eles o contariam a fim de santificar os anos sabáticos. (Mishneh Torá, Capítulo 10 – grifo nosso).
De fato, os judeus tiveram dificuldades para realizar a contagem dos anos sabáticos e do Jubileu, principalmente após o retorno do cativeiro babilônico.
A incansável busca pela recontagem dos anos sabáticos
Os métodos de cálculo dos anos sabáticos (Shabat Shemitah) posteriores foram mal compreendidos pelos estudiosos, no decorrer da história.
Muito provavelmente, por conta da falta de familiaridade com a prática judaica, resultaram-se diversas especulações e divergências nestes cálculos.
A constatação desta inconsistência pôde ser reiterada pelo próprio Maimônides (1180), ao mencionar que todos os “gueonim” (os que presidem as escolas rabínicas) respeitam a tradição de que nos setenta anos em que o povo ficou cativo, até a construção do segundo templo, “eles contaram apenas os anos sabáticos, não o ano do Jubileu”, complementando que: “da mesma forma, após a destruição do Segundo Templo, eles não contaram o quinquagésimo ano.
Em vez disso, eles contaram apenas conjuntos de sete, desde o início do ano da destruição” (Mishneh Torá, Capítulo 10 – grifo nosso).
No final do século XIX, os judeus voltaram a trabalhar a terra, que se encontrava deserta, por séculos. Contudo, continuaram com a contagem pré-estabelecida durante o período do segundo templo, ou seja, em uma sequência contínua de anos sabáticos (apenas conjuntos de sete), sem considerarem o encerramento do ciclo, com o Jubileu.
Segundo Zandona (2014), a Heter Mechira, que se trata de uma licença de venda devido a situação temporária, foi idealizada neste período (nos primeiros dias do sionismo), pelo Rabino Yitzchak Elchanan Spektor.
Naquela época, a terra estava em ruínas, sem condições para o plantio, requerendo dos moradores daquela região um esforço contínuo para a recuperação da mesma e, portanto, eles não achavam prudente deixar de trabalhá-la em ano de Shabat Shemitah.
Logo, houve uma permissão temporária para os indivíduos, concedida pela Halachá (caminho conforme a Lei), onde instituiu-se a Heter Mechira (licença de venda), no qual as terras poderiam ser vendidas para um não-judeu (gentio) durante o período de Shabat Shemitah. Este continuaria com a prática de cultivo na terra e, ao cabo do ano sabático, ele a devolveria ao proprietário judeu.
Segundo Zandona, para que houvesse o pleno cumprimento do Shabat Shemitah era necessário que os judeus retomassem a posse da terra, cuja jurisdição foi concedida somente em 1948, porém, desde 1917, a medida temporária Heter Mechira passou a ser incorporada durante o mandato britânico e, até os dias de hoje (Século XXI), infelizmente, vem sendo praticada por muitos estabelecimentos.
As influências do inimigo para alterar o calendário e a lei
Conforme se lê em Daniel 7:25, o inimigo irá desafiar o Deus Altíssimo, tentando “alterar o calendário, as solenidades e a lei…”.
Diante dos apontamentos elencados acima, fica evidente que o espírito do anticristo já está agindo, desde o princípio, corrompendo as práticas biblicamente instituídas no que tange às solenidades bíblicas.
Certamente, esta ação do inimigo tem o objetivo de confundir e atrapalhar o povo de Deus de discernir os tempos e as estações que moldam os planos do Senhor no tempo do fim.
Portanto, precisamos atentar para os escritos sagrados e buscar todo o discernimento, em Deus, a fim de obtermos os direcionamentos que apontam para o propósito de redenção que se relacionam com os últimos dias.
Vamos prosseguir no caminho do Evangelho Genuíno, conforme a doutrina dos apóstolos de Jesus Cristo.
Se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? (1 Co 14:8).